Memórias de uma abelhinha de Irati

Tudo vale a pena quando a alma não e pequena

Meu Diário
29/07/2017 21h14
Pela tela do tempo...

Sempre deslizam imagens que o tempo não consegue apagar...

Revejo aquela menina franzina, tímida e muito calada, aprendendo com certas dificuldades, as primeiras lições escolares.

Chego até ouvir a voz da mestra querida, chamando-me ao quadro negro, pra ler o ''A-E-I-O-U'' detrás pra frente e não conseguindo, me pus a chorar sob o riso dos coleguinhas mais adiantados.

Fui consolada e incentivada por ela pra que nunca desistisse, que um dia iria aprender todas aquelas letrinhas de frente pra trás e de trás pra frente.

Tinha razão a mestra querida, pois hoje depois de tantas primaveras, posso olhar pra trás e sentir a paz dos que souberam perseverar, ante os tropeços que a vida nos impõe.

A lição do ABC foi apenas o primeiro impulso, pra que pudesse abrir a visão para as coisas que o mundo pode nos oferecer.

Não fosse a conscientização de que, nada se conseguirá sem persistência,provavelmente hoje, não teria nem como registrar minhas reminiscências.

No momento do adeus á escola,já equipada pelo saber ler e escrever,pude então avaliar, a importância da vida escolar,nos preparando para o futuro.

Já na fase adolescente,encontrando pelo caminho a presença inevitável do primeiro amor,.como toda jovenzinha sonhadora, também fiz mil castelos pelo ar e deslumbrada diante de tantos sonhos, esqueci de viver a realidade do dia a dia.

Deixei que aquele amor tão romântico se desvanecesse em sonhos e quimeras.

Pobre príncipe encantado!...Como poderia tornar-se realidade, no coração de uma princesa pobre?

Num conto de fada tudo é possível, mas na vida real, até a paixão mais forte sucumbe diante da realidade da pobreza, frente ao poder social.

Foi a mais forte e sofrida das desilusões,embora sem saber, que aquele que viria preencher o vazio da sua vida, acabara de nascer...14 anos depois.

Começara amadurecer para a vida,afinal seus pais e irmãos,sua pobre e humilde casa, já não lhe permitiam mais sonhar.

Era preciso se equipar com as armas que tinha, pra sair em busca do futuro,armada de fé e muita coragem.

Partiu em busca de novos horizontes, deixou atras de si a pequenina cidade,que lhe acolhera pra vir ao mundo, a linda Perola do Sul.


Publicado por Memórias de uma abelhinha de Irati em 29/07/2017 às 21h14
 
29/07/2017 20h59
Pagina virada...pagina pesada

De todas as páginas, essa é a mais pesada.
Quantas lágrimas e sofrimentos elas contem
Foram anos e anos de felicidade e alegria
A chegada, foi regada de esperança e fé no futuro
Ainda ouço o ruído dos risos ecoando no ar
Ainda vejo o brilho nos olhos de todos
Por ter um lugar só seu pra morar.

A felicidade é feita de momentos, bem sei
E só se perpetuam nas lembranças...

O riso fácil estampado nos rostos ao chegar
Se transformam em lágrimas na partida
As brincadeiras e travessuras...
Os passeios e a hora de estudar, eram rotinas
A visita dos poucos amigos,dos parentes
Cada vez mais distantes, se afastando...

Depois mais tarde...

A filha, deixando o porto seguro do lar, pra na vida se aventurar
O filho, desobediente, provocando tanto sofrimento e dor
As noites mal dormidas da longa espera
Pelos portões e quintais...
A preocupação de não saber, onde encontrar na madrugada;
A decepção por ver que os ensinamentos dados, de nada valeram.
Se perderam no caminho.


Publicado por Memórias de uma abelhinha de Irati em 29/07/2017 às 20h59
 
29/07/2017 18h46
Homenagem póstuma...

FOI  NUM DIA 25 DE ABRIL QUE ELA NASCEU HA 92 ANOS ATRAS.

QUE BENÇÃO VIVER TANTOS  ANOS ASSIM...

CERCADA PELO CARINHO DE TANTOS QUE A AMAM E TORCEM PELA SUA SAÚDE. 

MÃE E UMA PALAVRA TÃO LINDA!

AS PORTAS DO CÉU SE ABREM PRA RECEBER O ECO DAS VOZES  DOS FILHOS AFLITOS, QUE CLAMAM POR SUAS MÃES AUSENTES.

92 ANOS DE DEDICAÇÃO E AMOR ,VIVIDOS EM DOAÇÃO AOS SEUS.

NASCIDA EM ABRIL O MÊS DO MAIS LINDO CÉU DO ANO.

ELA CHEGOU PRA DAR VIDA AS NOSSAS VIDAS...

QUERIDA E ETERNA MÃEZINHA:

DEUS NÃO ESCOLHE OS CAPACITADOS, MAS CAPACITA OS ESCOLHIDOS E VOCÊ FOI CAPACITADA, PRA VENCER ESSA DURA BATALHA, CHAMADA VIDA


Publicado por Memórias de uma abelhinha de Irati em 29/07/2017 às 18h46
 
29/07/2017 18h07
Doce e querida Lady Lidia

Simplesmente Mãe

Mãe simplesmente...

 

COMO FILHA DE UMA MÃE CORAJOSA E FORTE, TIVE EXEMPLOS DE QUANTO MAIOR A LUTA, MAIOR É A VITORIA...

MINHA MÃE E EU TRILHAMOS CAMINHOS DIFÍCEIS QUE SE FOSSE NECESSÁRIO PERCORRER DE NOVO, MUITO PROVÁVEL QUE ACEITARIA SÓ PRA CONSTATAR SUA VALENTIA.

DEI PARTE DA MINHA JUVENTUDE CUIDANDO DELA, QUANDO ABANDONADA E SEM RUMO SE VIU SOZINHA, COM ALGUNS DOS FILHOS JÁ FORA DE CASA, COUBE A MIM PROTEGE- LA E PARTI PRA LUTA, SEM ESMORECER CUIDEI DE VOCÊ MÃE.

COMO UMA FILHA AMOROSA ,FUI TESTEMUNHA DAS SUAS LAGRIMAS E DO SEU SOFRIMENTO MUITAS VEZES QUASE FATAIS, MAS UMA MÃO PODEROSA LHE ERGUIA DO LEITO DE DOR, E INÚMERAS VEZES SAI CORRENDO LINHA ABAIXO BUSCAR AJUDA DE UM BENZEDOR PRA SOCORRE-LA E FICAVA FELIZ AO VER QUE O SEU JOSE BARULHO, SEU COMPADRE BENZEDOR, AO SAIR DE NOSSA CASA DIZIA:

- CUIDE BEM DA COMADRE.

A POBREZA ERA TANTA, QUE MUITAS VEZES UM OVO ERA REPARTIDO EM DOIS E A SENHORA, POR CERTO FICAVA SEM...

COISAS DE MÃE

HOJE APESAR DA IDADE AVANÇADA, SUA MEMORIA É BOA E DE VEZ EM QUANDO RECORDAMOS JUNTAS, COMO O DIA EM QUE EMPRESTOU UM SAPATO DA VIZINHA, PRA BUSCAR UMA VAGA  DE ZELADORA NA PREFEITURA DE IRATI,LEMBRA?

ISSO SEM FALAR DAS MADRUGADAS FRIAS IRATIENSES, EM QUE SAIA APLICAR INJEÇÃO NUM DOENTE DE ULTIMA HORA E QUE MAIS TARDE APRENDI TAMBÉM FAZER, E JUNTAS FIZEMOS ESSA AÇÃO DE SOCORRER ALGUÉM, NUM MOMENTO DE DOR.

DIZEM QUE O PRIMEIRO FILHO É MUITO INVEJADO, POR TER CONVIVIDO MAIS TEMPO COM SUA MÃE, E EU TIVE ESSE PRIVILEGIO DE CONVIVÊNCIA...

COMO PRIMEIRA FILHA DESSE CASAMENTO, PERCEBI DESDE MUITO PEQUENA, QUE ESTAVA DIANTE DE UMA MULHER FORTE E COM UM OLHAR DE SABEDORIA E DETERMINAÇÃO.

 E COMO BOA ALUNA, APRENDI A SER ASSIM TAMBÉM...

 NUNCA ME INCENTIVOU A ESTUDAR ,PORQUE TAMBÉM NUNCA FOI INCENTIVADA, MESMO SENDO NETA DE PROFESSOR, QUE COSTUMAVA LEVA-LA  JUNTO EM SUAS AULAS QUANDO MENINA.

TRAZIA NA ALMA E NO CORAÇÃO POREM, O GOSTO PELA MUSICA E PELO TEATRO DAS PEÇAS INFANTIS.

COMO EU TAMBÉM ME DESTAQUEI NUM CONCURSO LITERÁRIO POSITIVO NOS ANOS 80, COM PREMIAÇÃO POR MELHOR SLOGAN DO COLÉGIO ONDE FUI PREMIADA E COM JUSTO ORGULHO RELEMBRO COMO VOCÊ POR CERTO RELEMBRA, AS HOMENAGENS QUE RECEBEU EM CRIANÇA AO FAZER O PAPEL DE UMA VELHINHA, PROVOCANDO LAGRIMAS NA PLATEIA, NUMA PEÇA  AO LADO DE SUA AMIGA DE INFÂNCIA, A ATRIZ LIDIA MATOS.CONFORME COSTUMAVA CONTAR.

DESDE OS PRIMEIROS PASSOS, SENTIA SEGURANÇA NO PEGAR EM SUA MÃO, POIS SABIA QUE MÃO DE MÃE É COMO ÂNCORA, QUE NÃO SOLTA...

É COMO RAIO DE SOL QUE AQUECE...

É COMO BRILHO DO VERDE MAR.

MINHA MÃE HOJE AOS 92 ANOS, É O EXEMPLO MAIOR DE QUE SOFRIMENTO E DIFICULDADES SÓ FORTALECEM .

É PENA QUE NÃO POSSA LER ESSA MENSAGEM, POIS A LUZ DOS TEUS OLHINHOS AZUIS ESTÃO SE APAGANDO, MAS TUDO ESTA GRAVADO NA SUA E NA MINHA MEMORIA, MÃE QUERIDA.

HOJE SEI E DISCORDO, QUE A ROSEIRA QUE VOCÊ TANTO GOSTAVA FOI CORTADA E ATE AS FOTOS ANTIGAS FORAM RETIRADAS DA SUA PRESENÇA, PRA QUE NÃO LEMBRE DO PASSADO, MAS O QUE É A VELHICE SEM AS RECORDAÇÕES DO QUE PASSOU?

 EU QUERO LEMBRAR SEMPRE TUDO O QUE VIVI, POIS RENEGAR O PASSADO É RENEGAR A SI MESMO.

DOCE E QUERIDA LADY LIDIA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Publicado por Memórias de uma abelhinha de Irati em 29/07/2017 às 18h07
 
25/07/2017 21h04
Desabafo

 

Você vai apodrecer na cadeia,você e o teu Polaco...

Essas palavras ainda ressoam na mente,como se fossem gravadas á fogo. 

Fragilizada em meus sentimentos pela morte da mãe querida,caí na armadilha daqueles que um dia ajudei a criar e cuidar  a custa de muito sacrifício e penúria. 

O rancor estampado naqueles rostos crispados de raiva,,que de dedo em riste me acusavam,causou uma enorme tristeza em meu coração. 

Parecia que o que menos doía pra eles, era a perda da mãe querida,tão recente ainda,me parecendo um bando de chacais furiosos, prestes a devorar o que dela restara financeiramente, esquecendo que a vida toda lutei rente ao seu lado.

Não fui apenas uma filha,fui mais que isso,fui sua amiga e companheira de viagem, uma viagem longa e dolorosa,que durou 92 anos.

A dor da perda foi grande mas a dor da ingratidão pesou bem mais,pois a cada um deles estendi a mão em algum momento da vida.

Ao Ailton socorri num momento financeiro difícil na oficina,comprando o piano pra que pudesse saldar dívidas.

Ao Admar sempre dei minha ajuda financeira quando cheguei a Curitiba,já transferida da Telefônica de Irati,cheguei trabalhando, não dei despesas indo morar junto no velho casarão do seu Pedro Geronasso.

A Rute muitas vezes dei o dinheiro pra pegar o onibus evitando assim que pedisse aos estranhos,como o Bar do Renato no tempo das vacas magras.

Ao Binho ajudei a sustentar quando ainda tão jovem esperava pra servir a Patria, numa idade de arrumar confusões.

O Aurélio e a Sandra ainda pequenos mantive com muito esforço na escola Leôncio Correia,alimentado e cuidando de todos com o pouco que ganhava, no Moinho Curitibano onde trabalhava todos os dias a pé,levando a marmita requentada,por não ter ainda uma geladeira.

Quantos sacrifícios, que hoje me parecem que foram em vão...

Resta o consolo de saber que pelo menos a Leda Mara não voltou as costas porque sempre foi mais sensível na vida e na arte.

Tenho certeza que se viva fosse ,teria o apoio da Lili,que sempre me estendeu a mão, nos momentos difíceis da vida,como quando fui expulsa do quarto, pra dar lugar pro Admar. 

Ficando sem rumo ela me acolheu num lugarzinho da sua modesta casinha de onde só saí pra formar minha própria família,ao lado daquele que Deus me reservou, há mais de 30 anos casados.

Á todos eles agradeço a oportunidade de ajuda-los um dia, mas é especialmente á minha mãe,o mérito da minha gratidão eterna.

Foi por ela e pra ela que hoje posso dizer sem medo de errar,que valeu a pena carregar tão grande bagagem.


Publicado por Memórias de uma abelhinha de Irati em 25/07/2017 às 21h04



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