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17/02/2017 21h44
Nha Catarina,Nho Hipolito
Eles merecem uma página a parte, pelo muito que significaram em minha vida.
Além de avós,foram meus padrinhos de batismo, em casa, e meu avô me chamava de ''mirim.
Depois dos meus pais, foram os que mais quis bem, afinal fui neta afilhada.
Gostava de ficar escutando os causos do vovô, enquanto comia, as broas da vovó, feitas sempre com batatas e assados naquele forno de fundo de quintal, debaixo do pessegueiro.
Formavam um casal engraçadinho, sendo ele um bugrinho, moreninho e franzino,que gostava de sentar e erguer uma das pernas no banco,enquanto pitava o ''paiova'', feito de palha;
Pra isso, tinha sempre fumo de rolo, secando na caçambinha.
Era muto proseador:
Contava tantos causos, parecendo tão verdadeiros, que faziam a imaginação voar longe,ia maginado cena por cena.
Nhá Catarina, era robusta, muito clarinha,olhos azuis e o cabelo sempre trançado,preso num ''coque'' no alto da cabeça,
Como legitima polaca; descendente de uma familia abastada de Contenda, largou tudo, pra seguir aquele moreninho, que era empregado da fazenda do seu pai André.
Não aceitando o casamento, o jeito era fugir, pois aquele bugrinho encantou o seu coração.
No dia da fuga ,ele a colocou na garupa do cavalo e foram em busca da felicidade, viver aquele amor, que parecia jamais dar certo.
O preço pago pela noiva deserdada, perdendo a herança paterna, foi compensada pelo amor da familia, que dali surgiu,
Tocaram a vida e tiveram muitos filhos, entre eles meu pai Antonio.
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No final de cada dia,sempre que acabava a ''Voz do Brasil, ela saía na porta e gritava:
- Vem comadre,já vai começar a novela.
As novelas de rádio na época, eram Serra Brava e A maldição do Solar Vermelho e o Direito de nascer.
Eram os únicos a ter rádio na familia, e ficavam felizes, quando todos se reuniam na sala, em torno do aparelho, e sem conversar,ficavam atentos ao desenrolar da trama.
Não havia banheiro naquela casa,o banho diário era de ''tina ou coxo, como costumavam falar os de ''dantes tempo,''com direito a tomar um bom café, coado no coador de pano,acompanhado de pão com banha de porco.
Eu costumava ficar lá até a noite,sentada sobre o velho balcão de guardar mantimentos, ou sobre o caixão de guardar lenhas,ouvindo as intermináveis conversas das comadres.
Certo dia,a fortaleza que tinha o nome de Catarina, adoeceu,
Ficou fraquinha,mas muito religiosa, costumava se ajoelhar pra rezar o Terço, em frente a imagem da Santinha, Padroeira dos Poloneses, Nossa Senhora de Czestochowa.
Acho que foi dela, que herdei essa minha religiosidade, esse fervor religioso.
Mesmo assim,nunca mais recuperou sua saúde,consequencia quem sabe, da juventude sofrida, trabalhando na lavoura e logo após, já casada,teve que fugir muitas vezes do vovô, quando ele embravecia; chegou ela até subir em árvores e com isso adquiriu uma hérnia, que a incomodou a vida tôda.
Passado algum tempo sobre a cama, veio a falecer, deixando só o seu bugrinho.
Não sei se por arrependimento ou pela saudade, ele mergulhou na bebida.
Um dia, andando pela linha do trem,recebeu uma pancada de um vagão em movimento, quase fatal.
Desde então, já com dificuldades pra andar,costumava pedir-me pra fazer compras no Armazem do Sierakoski ou no Galicioli, mas quando ele pedia pra ir no açougue do Bihaico,eu não queria ir sozinha, tinha medo,pois contavam que lá,tinha um ''alçapão'',onde as pessôas podiam cair,como comentavam as comadres do lugar..
A partir dai,nunca mais ele foi o mesmo.
Ficou depressivo por algum tempo e partiu tambem,talvez com esperança de encontrar aquela moça tão bonita e decidida,que um dia ele roubara na garupa de um cavalo e que nunca esqueceu.
Por certo apesar de tantos erros, fôra redimido ao salvar da morte certa, o menininho Jeferson, filho da dona Pedrina, que um dia ficara caido muito próximo a um fio de luz que rebentara,e ás pressas, socorreu aquela criança.
Belo gesto que o tornou um HERÓI desconhecido.
Esses foram meus avós; Catarina e Hipólito, dos quais descendo pelo lado paterno.
Publicado por Memórias de uma abelhinha de Irati em 17/02/2017 às 21h44
17/02/2017 16h16
A magia do circo
Palhaço Jujú,José Eugênio,Rogério,Guaxupé,Chic-Chic e tantos outros...
Tudo isso fez parte da magia do circo da infância.O circo, sempre exerceu fascínio nas pessoas e comigo não foi diferente.
Quando ao longe ouvia um caminhão, anunciando que o circo chegou,meu coração disparava.
Era mais uma vez, a oportunidade de entrar debaixo daquela lona e ser simplesmente feliz de novo.
Aquelas horas ali passadas,pareciam uma eternidade e ao sair, a realidade voltava á tona.
Quantas vezes fui ver aquele palhaço, e ficava imaginando a beleza de um rosto por detrás daquela fantasia toda.
Chic-Chic, era o mais constante naquele pedaço de espaço, próximo ao Centrinho de Asa da dona Chiquinha.
Quando então anunciavam, que naquela noite mulher não pagaria, o alarido era geral e quanto antes chegar,melhor lugar pegaria perto do picadeiro.
O palhaço abria o espetáculo, como sempre,mas o brilho do picadeiro ficava por conta do sanfoneiro, de nome José Eugênio, do qual guardei por longos anos,uma foto autografada.
O palhaço Jujú, também quebrantava os corações, era sem maquiagem nenhuma,um rapaz formoso, que por certo atraía as moçoilas casadouras, até o circo prá ver mais um espetáculo ao ''Distinto e respeitável público''
Correu até um buxixo, de que uma antiga amiga do Duque de Caxias, de nome Zoiá, largou tudo pra seguir o circo.
Quem dera fosse eu, pensei na época,cheia de inveja me imaginando já, dando piruetas no trapézio.
Quando as lonas começavam a serem desmontadas,voltava o aperto no coração, onde a saudade do circo chegando e partindo, se instalara
Porém a alegria em saber, que outro circo chegaría pra ocupar aquele mesmo lugar, trazia alento e confiança de que:
Enquanto um desaparece,outro se prepara prá chegar.
´´Benvindostôdososcircosquepassarampelaminhavida´´
Publicado por Memórias de uma abelhinha de Irati em 17/02/2017 às 16h16
16/02/2017 21h56
Legião Brasileira de Assistência (LBA)
LBA (Legião Brasileira de Assistencia)
Costumava buscar bem cedinho, o litro de leite doado pela LBA,na época da Leoni Fenianos,que sempre sorridente,atendia á todoscom um gostoso;
-Bom dia!
Inúmeras foram as vezes em que fomos nos consultar,com o Dr Vantroba,Renato e Farid.
Nas festas de final de ano,havia sempre um presentinho pra criançada.
Lembro-me, que ganhei um joguinho de panelinhas e ao chegar em casa, quis dar pra minha mãezinha, por achar que as dela eram velhinhas.
De certa feita, ao pegar o litro de leite bem cedinho, fui seguida pelo Pinduquinha.
Ele me fez correr bastante, até próximo a linda casa dos Zarpellon e quando já estava quase me alcançando,surgiu um senhor que botou o Pinduca prá correr.
Nunca fiquei sabendo,quem foi o meu herói naquele dia...
O período da infãncia, é como uma mancha desbotada em preto e branco que nem o tempo, distãncia e até mesmo a idade, consegue apagar.
Como esquecer por exemplo, o Dia de Páscoa,quando mamãe levantava no meio da noite, quietinha, pra encher os 8 pratinhos em forma de ninhos,com balas,bananas e ate caqui?
De chocolate não tinha quase nada, a não ser uns pequenos ''ovinhos coloridos''
Que sensação gostosa, pegar no dia seguinte aqueles ninhos e devorar tudo, como se fora os melhores chocolates do mundo,tomando o cuidado de ''disfarçar o segredo da mamãe coelha''.
As festas de Natal, tambem eram marcadas pela simplicidade, sem direito á Ceia com perú e outras guloseimas.
O pão caseiro fresquinho e o macarrão de casa, e uma galinha caipira bastava.
Na hora dos presentes, bem raros eram os brinquedos, sendo mais comum, ganhar uma peça de roupa nova.
Os brinquedos ficavam por conta da dona Dica e do se Bira, que bondosamente distribuiam ás famílias carentes, e assim, enchiam de alegria aqueles coraçõeszinhos tão carentes..
Uma boneca de verdade com lindos olhos azuis, nunca tive em criança,talvez por isso minha mãezinha me deu antes de partir, sua bonequinha trajada de alemãzinha, que ganhou de alguem um dia, e que guardo com imenso carinho por ela.
Mais tarde, quando fiz 18 anos, ela presenteou-me com um quadro de Jesus no Monte das Oliveiras, que desenvolveu em mim, o imenso amor que devoto á Ele.
Quando no seu leito de morte,inúmeras vezes a vi muda e cega, postar as mãos em oração.
lembrava daquele quadro e orava junto á ela, em pensamento.
''Minha mãe,minha santa querida''
Como sinal de gratidão, comprei na Auto Irati,uma máquina de costura pra ela não precisar mais costurar na mão, ou cochicar as roupas, como costumava falar.
Todas as roupinhas dos filhos, ela costurava na mão noite a dentro, pra vestir no dia seguinte.
Teve uma vez, que precisando levar a caçulinha no médico, sentou a criança em cima da mesa e costurou ali mesmo no corpinho, a calcinha salvadora.
A situação em familia porem, ficava mais dificil e a separação, não tardou acontecer.
Separados,meu pai se negava a prestar ajuda a esposa,que de repente adoeceu e precisou ser internada no Hospital São Vicente de Paula,em frente ao Bar do Bini.
Ele praticamente lavou as mãos, e coube á mim interna-la,não sem antes passar pela Delegacia da cidade, pra pedir autorização, por ser ''dimenor ainda.
Após o internamento,fiquei de plantão nos pés da cama da enfermaria,pra não deixa-la sozinha
Assim,nossos passeios de domingo, tornaram-se constantes naquele hospital de caridade, e foi assim tambem, que saltei da adolescência pra maturidade, muito cedo.
Foram muitas as responsabilidades e deveres, e disso não me arrependo, pois cumpri o papel de filha amorosa e consciente, que não se descuidou um minuto siquer da mãe, deixando de lado sonhos e projetos, que Deus julgará um dia, na eternidade.
Não sei se fui a melhor filha do mundo, só sei que sempre procurei dar o melhor de mim e sobretudo, ser sua melhor amiga e confidente.
Te amo mãe querida.
Lembranças como essas, não podem morrer jamais...
Publicado por Memórias de uma abelhinha de Irati em 16/02/2017 às 21h56
16/02/2017 19h00
Gente humilde
...Como na canção do Chico,lembrar das casas simples do meu bairro aldeia, me comove.
Pessoas como os Mingaus,os Baruios,os Passarinhos,os Bicudos,Os Corujas e outros mais, que quase sumiram da tela do tempo.
Os Mingaus ,eram de família numerosa,com ''Seu Cipriano e dona Joana
morando num casebre, perto dos Staniescki,no bairro Canisianas.
O alimento diário já se pode prever, era mingau mesmo, até o dia em que ele recebia o ordenado de encostado.
Colocava tudo o que comprara no chão forrado de papel e chamava a criançada, pra atacar a fome que sentiam.
Em pé ao lado, dona Joana olhava a criançada se lambuzando, de tanto comer leite em pó aos punhados,e sorria como quem diz:
Amanhã Deus dá mais...
Já Maria polenta era mais ativa, dando duro pra criar seu filho Zeco,um menino muito desbocado e briguento,que diziam ser filho do Sabiá,um andarilho da cidade.
Mais tarde arrumou novo amor´´ ja casado´´ que lhe deixou outro filho nos braços, mesmo assim resistiu as agruras da vida, zelando por eles ate o final da sua vida.
...Seu Zé Baruio era guardião da fabrica dos Dallegrave,além de cuidar também da Capelinha do Morro da Santa,onde moravam numa simples casinha privilegiada pela beleza do lugar.
Dona Rita era lavadeira de mão cheia como se costumava dizer e não foram poucas as vezes em que lavou trouxas de roupas pra comadre Lidia de dieta.
...Seu Zé Baruio era benzedor e remedieiro,muitas vezes ajudou os compadres a fazer um cataplasma de mandioca pra bronquite ou um esquenta peito de azeite aquecido numa folha daquele papel azul que embalava o macarrão talharim.
Sempre acompanhado pela sua Rita...
Eram tão simples no agir e no falar, que hoje quando lembro comovida, vejo quão humildes eram, sentados nos finais de tarde em frente a sua modesta casinha,tomando chimarrão.
Era o casal perfeito pra auxiliar o próximo, e vinham de uma familia com sobrenome, que destoava daquela simplicidade: Os Ionngblood...
...Diante de toda essa vivência de vizinhos, porém foi a família Picacove quem mais marcaram essas lembranças.
...Quando volto no tempo e vejo aquele rapaz, ainda tão jovem estendido sobre uma tarimba,imóvel,tetraplégico.
Argemiro era seu nome,vulgo Miro Picacove,irmão da Gilda,da De Lurdes e da Negra do José.
Era o único filho homem, da Nha Rufina e do seu Pedro Picacove.
Inutilizado após um tombo violento,nunca mais sarou o coitadinho.
Era ele, quem mais ajudava aqueles pais tão pobres, e de repente, a pobreza ficou maior ainda, precisando da ajuda dos vizinhos.
A couve, era o indício de que o alimento diário, se resumia nisso,couve picadinha com caracu,consumidos aos berros da Nha Rufina, na porta chamando Seu Pedro picacove,dizendo
-Venha 'antes que o Miro coma tudo.''
Diariamente, minha mãe ia aplicar injeção nele e como toda criança curiosa, ia junto e ficava compadecida daquela situação.
Viveu pouco aquele rapaz,mas o suficiente pra ser lembrado em Minhas Memórias.
Fazendo essa varredura na mente,colocando cada personagem que ali viveu, no destaque merecido,fico comovida com a vida daquela gente tão humilde e confesso:
Dá vontade de chorar.
Publicado por Memórias de uma abelhinha de Irati em 16/02/2017 às 19h00
15/02/2017 23h57
Luar sobre um rio de mel
Magia...encantamento
Quando a lua surgia no céu, resplandecia na colina.
Como chuva de prata,cobria toda cidade
E nesses momentos, a voz da minha mãe ressoa dizendo:
Tá um luar que é um dia!
Deitada na grama, me vejo olhando o céu ao lado do meu pai
que em noites assim brilhantes,buscava no ceu sinais dos tais Sputnik
Era um observador nato, acreditava em novos mundos habitados.
Eu por meu lado, só admirava aquela lua bailarina dançando lá no céu.
Me enchia de esperança. que ela ficasse pra sempre bailando
enfeitando as noites peroladas da cidade.
Dentro de casa, já então deitada,ficava recebendo ainda seus raios, que teimavam em vazar, pelas frestas das paredes.
Então lembrava da canção, que o poeta escreveu um dia:
''A porta do barraco era sem trinco
mas a lua furando nosso zinco
Salpicava de estrelas nosso chão.''
Ainda hoje, quando vejo a lua no céu, me emociono.
Por saber que ela ainda é a mesma lua, que invadia o meu quarto na infância.
Publicado por Memórias de uma abelhinha de Irati em 15/02/2017 às 23h57
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