Memórias de uma abelhinha de Irati

Tudo vale a pena quando a alma não e pequena

Meu Diário
11/02/2017 20h36
Se essa rua fosse minha...

...As lembranças são bênçãos divinas pra avivar tudo que vimos um dia,e como é bom percorrer-las, uma a uma,toda vez que sentimos saudades de alguém, ou de algum lugar que nos marcou profundamente.
Como a Rua da Casa Brasil na Conselheiro Zacarias, esquina com a rua Santos Tomaz, a rua da minha vida...
Ao sair de casa, em poucos minutos passava pela casa da tia Maria, lá na descidinha.
Em poucos instantes já estava dobrando a esquina que levava
para o ''centro da cidade''

Era a Conselheiro Zacarias, essa rua da minha cidade que marcou de forma indelével ,todos os acontecimentos da minha infância e juventude
Ja existia na esquina, imponente como um grande armazém pra época, o Dugloz onde dona Ema, invariavelmente cochilava reclinada na cadeira, por conta da ''doença do sono''  que dizia sofrer. 
Ao lado, na mesma esquina o salão de beleza da dona Ligia Sadock, a mãe da Sonia e do Sergio,esperava de portas abertas, a primeira freguesa do dia, que certamente sairia de la convencida de sua ''boniteza.
Mesmo que assim não fosse, ficava feliz pelo atendimento carinhoso, daquela  senhora sempre simpática e sorridente, como a filha.
Alguns passos seguidos e já estava diante da casa Brasil,onde dona Antonia, a antiga professorinha, se esmerava em atender seus clientes que não eram poucos, apesar do ''fiado na caderneta''
Não foram poucas as vezes que la entrei, em busca de um reforço no lanche da telefônica,pra agüentar o tranco do puxado turno de telefonista.
Em época natalina, as vitrines de enchiam de luzes coloridas, piscando sem parar, como a dizer num convite:
feliz natal !
Dando mais alguns passos la estava o Esplanada Hotel, reinando absoluto, naquela rua em frente a estação do trem,zelosamente cuidada pelo ‘’seu Maurilio Lopes.
Estrategicamente colocado, pra receber os viajantes, que desembarcavam do outro lado da rua, era talvez por isso, o mais popular e o mais procurado da cidade, pelos viajantes que ali desembarcavam.
A atenção com a qualidade como eram tratados, refletia no rosto do jovem Helio,um dos proprietário do Esplanada Hotel.
Logo, ao lado a casa dos Zarpellons, se destacava  com seu ar de pompa e mistérios, que faziam a imaginação voar, buscando saber o que acontecia no seu interior.
Por certo, a voz do povo influenciava muito, dizendo de tragédias ali acontecidas, debaixo do lindo céu de anil de Irati,porem pra mim, era simplesmente o casarão dos Zarpellon Leondi e Leodone, e era lindo de ver cada vez mais...
Do lado ficava o moinho dos Marochi ,tendo dona Isolina como vizinha, uma senhora muito prosa, que se tornou madrinha de crisma de uma das minhas irmãs.
Dando alguns passos então, o próximo portão era da Telefônica, onde telefonistas a postos, zelavam pela comunicação entre as pessoas, numa época que telefone celular teria sido considerado loucura.
Ao lado ficava a relojoaria Dotti,onde comprei minha primeira perola, nos brinquinhos que tanto sonhara ter.
A loja A realeza,era a Boutique da época,suas vitrines resplandeciam roupas tão lindas e inalcançáveis, pro padrão de vida que levava.
Luiza,minha amiguinha, era quem cuidava da loja do seu Pedro Kopp, e vez por outra entrava a pretexto de conversar com ela. mas sempre de olho nas novidades que eram muitas...
Ao sair da A realeza,passava em frente a casa dos Maluceli,Jorge Luiz e sua filha Tania, eram os que mais apareciam nas idas ao duque de caxias.
...atravessando a rua já estava na Praça da Bandeira, com seus banquinhos muito bem cuidados,tão diferente de agora, que reina um certo abandono na preservação daquele lugar, que já foi o mais procurado, por seus moradores pra repousar, nos finais de tardes,ou na boca das noites calorentas da Pérola do Sul.
Enfim,depois da Praça, quase no finalzinho da rua fechando a Conselheiro Zacarias, ficava o Bar do Miguel,que fazia jus ao seu nome de anjo,atendendo a todos, com aquela atenção que fazia a gente ter vontade de voltar de novo...
E voltava sempre, pra comprar mais pirulitos e balas de ovos.

Essa foi a rua que mais marcou meus passos.
Nos momentos de solidão,procuro percorrê-la passo a passo. que quase chego a ouvir, o som do toc toc dos meus passos.

Memorias de uma abelhinha de Irati


Publicado por Memórias de uma abelhinha de Irati em 11/02/2017 às 20h36
 
11/02/2017 20h21
Chão amado


Prá muitos,recordar o passado pode ser uma coisa maçante...sofrida.
Até mesmo sem nexo.
Porem, como já disse alguém no passado,um povo sem memória é um povo sem história.
Pra mim,um sem memória, é uma pessoa que passou pela vida e não viveu.
Dito isso, vou me reportar ás minhas lembranças, que foram fotografadas pela minha boa memória,herdada da minha mãe, que até hoje, ainda,encolhidinha dentro dos seus 92 anos,lembra com nitidez, fatos que marcaram sua vida desde a infância.
Isso por certo, ajuda a enfrentar sua velhice de agora, lembrando da criança que foi um dia.
Não abro mão da lembranças,sem elas, quem seria?
A cada etapa da vida, vamos somando experiências, boas ou desagradáveis, mas na hora de relembrá-las,as boas florescem mais.
Quando dou corda á elas, revejo na tela do pensamento,meu pai montado em sua bicicleta, indo e vindo do trabalho árduo da Pedreira ou do Britador,onde ajudava a quebrar as pedras, que formariam esse chão amado.
Cada pedra dessas ruas, tem um pouco do suor dele e de seus companheiros.
Lembro da minha mãe,diante de um fogão de lenha, a cozinhar lentamente
em meio a fumaça da lenha ainda verde,  preparando a ''janta''
As vezes, a comida era tão pouca pra 10 pessoas, que um ovo era repartido em dois pedaços por ela, que por certo não ficava com nenhum.
Revejo nossa casinha,sempre pintada de côr-de rosa, o puxadinho, o quintal com sua figueira e o pessegueiro em flor, a nos encher os olhos com sua florada tão linda.
Vejo meu avô,reclamando porque eu não parava de cantar o dia todo, acho que a desafinação o incomodava.
Da minha vó Polonesa, ajoelhada diante da imagem de Nossa Senhora de Czestochowa,ou Nossa Senhora de Monte Claro, a padroeira dos Poloneses.
Brincadeiras de rua, deitar na grama, andar de bicicleta por baixo do cano e ainda,levando um irmão na garupa, escondido do pai, enquanto ele, descansava,após ardua labuta.
O pocinho e o poção, onde baldeava água, pra suprir toda casa, pois não tinha água encanada no bairro.
Revejo minha mãe voltando do trabalho, trazendo passoquinhas nas mãos e muitas batatas, que era o prato mais freqüente em nossa mesa.
Doces memórias!
O primeiro dia de aula no Grupão, o nosso Duque de Caxias;
As primeiras professoras eram duas, com o mesmo nome: Avany Costa e  Avany Martini e a última ,que foi Professora Avany Caggiano Santos.
Também Dona Aury, dona Neuza,  filha da madrinha Julia  e do padrinho Nucha e Rosemary Lopes, a querida Professora de música, que sempre me elogiava nas aulas de canto.
Enfim:
Sobre esse chão amado,ainda ressoam meus passos.


Publicado por Memórias de uma abelhinha de Irati em 11/02/2017 às 20h21
 
10/02/2017 22h21
Reminiscências...

Tôdas as manhãs,ao abrir a janela do meu quarto, tudo o que via era o quintal da vovó Catarina, com seu precioso forninho de pão, debaixo de um pessegueiro em flor..
Essa visão fazia parte da rotina do dia a dia..
Ao erguer porem um pouco o olhar, avistava a linha do trem,com sua Maria fumaça apitando e fumegando na curva, qual fera ferida...
Elevando um pouco mais alto os olhos,avistava a Serra do Nogueiras, com os caminhões indo e vindo, como formiguinhas, ao longe.
Alongando ainda um pouco mais o olhar,vislumbrava a linda imagem da Santa da colina, que tive o privilégio de ver surgir, pouco a pouco, como num passe de mágica ,prá abençoar a cidade.
Sob esse céu de anil profundo, bailavam nuvens branquinhas por toda cidade, formando estranhas figuras no céu.
Ao cair a tarde,naquele momento sagrado da hora mágica,quando não se sabe se é o anoitecer que  chega ou o amanhecer que se vai,ouvia ao longe o cântico da Ave Maria,na hora serena do Ângelus,anunciando o final de mais um dia...
No céu,vaidosa lua brilhava refletida pela luz do amigo sol, que se escondera mais cedo, pra poder brilhar linda e formosa lua, derramando raios dourados por toda cidade, e a noite ao abrir a janela, avistava a Serra dos Nogueiras toda enfeitada pelo luar, derramando prata pelo chão, que levava minha mãe exclamar:
- Hoje está um luar que é um dia.
Fechando a janela, ainda via seus raios entrando pelas frestas da parede, invadindo o quarto, e feliz esperava o dia seguinte, para vislumbrar tudo de novo.
Como num filme que a memória gravou, pra jamais esquecer.
Irati...
Feliz cidade que me viu nascer,crescer e partir um dia,
 porem,jamais te esquecerei.


Publicado por Memórias de uma abelhinha de Irati em 10/02/2017 às 22h21
 
10/02/2017 22h07
Leite de colonia tem cheirinho de infancia


Ele surgiu em 1948, quando  eu já tinha 2 aninhos, mas ate hoje permanece em mim,quase 70 anos depois
Minha mãe e tias, já usavam, e costumavam ficar,com aquele cheirinho inconfundível de colônia.
É interessante pensar,,que um produto permanece por tantos anos no mercado, com seu publico fiel,sem perder referencias e com seu perfume inconfundível.
Eu sou uma dessas pessoas,não dispenso seu cheirinho, que ativa minha memória e me traz grandes recordações,do pequeno mundo que acabou..
O que  é bom permanece,como a boa semente que da bons frutos nunca seca
Assim é com esse cheirinho de infância,,que o leite de colônia nos da,;
quanto mais passar o tempo, mais será usado e lembrado..
Enquanto houver mamães usando, haverá crianças envolvidas, nesse suave perfume de encantamento e magia.
Certa vez, ainda bem pequena,,usei um pouquinho escondido na roupa,mas assim que mamãe chegou,,descobriu, pois o perfume me traiu...
Assim é e será sempre, o glorioso leite de colônia.
Usou, gostou...


Publicado por Memórias de uma abelhinha de Irati em 10/02/2017 às 22h07
 
09/02/2017 23h27
Socagem de serragem

TODA MANHÃ SAIA BEM CEDO, RADIANTE COM OS RAIOS DE SOL QUE INUNDAVAM MINHA RUA.
IA CATAR GRAVETOS E SERRAGENS, PRA PREPARAR O FOGÃO COM ANTECEDENCIA, PARA FAZER O ALMOÇO.
RELIGIOSAMENTE, A SERRAGEM ERA SOCADA,, COMO NUM TRABALHO DE ARTE,NÃO PODIA HAVER FALHAS, SENÃO DESMORONAVA TUDO.
NO MEIO DA CHAPA, ERA COLOCADA UMA GARRAFA PRA MOLDAR O TAMANHO DO BURACO,.ONDE IA A ESTOPA PRA ACENDER, E NA FRENTE, UM ROLINHO DE MADEIRA,,TIPO UM ROLO DE MACARRÃO,,QUE DETERMINAVA O TAMANHO DA ENTRADA DE AR, PRA ACENDER O FOGO.
ACESO,BROTAVA UM CALOR TÃO GOSTOSO, QUE JUNTO COM O CHEIRINHO DA COMIDA DA MAMÃE,INUNDAVA A PEQUENA COZINHA DA CASINHA COR- DE –ROSA.
AO SAIR,SEMPRE ENCONTRAVA DONA NOEMIA DE PLANTÃO NA JANELA,, BISBILHOTANDO QUEM PASSAVA E QUANDO ME VIA DIZIA;:
- LÁ VAI A TURQUINHA DO COMPADRE ANTONIO.
ERA ESSE MEU APELIDO, DEVIDO AS GROSSAS SOMBRANCELHAS, HERDADAS DA FAMILIA DO MEU PAI.

LOGO ADIANTE, UM NOVO BOM DIA,AGORA DA MARIA POLENTA,SEMPRE ''BARRENDO O TERREIRO'' DA SUA CASINHA,COM VASSOURA FEITA DE GUANCHUMA..
ALGUNS PASSOS A MAIS, E UM ROSTO SORRIDENTE ME SAUDAVA, ERA O SEU PLACIDIO,, BARBEIRO DO MEU BAIRRO ALDEIA; O PAI DO JOÃOZINHO, E DA LURDINHA,DO ZORICO E DO JOSE.
DO ZORICO E DO ZÉ,PREPARANDO SEUS APETRECHOS DE BARBEIRO, PRA CHEGADA, DO PRIMEIRO FREGUES.
ATÉ CHEGAR A FABRICA DO SEU ALEIXO,QUASE TODO O BAIRRO ALDEIA PASSAVA POR MIM,,TÃO PEQUENINA ERA MINHA RUA SANTOS THOMAZ.
NUMA SUCESSÃO DE LEMBRANÇAS, QUE FINDAM NO FINAL DAQUELA RUAZINHA, A CASA DA DONA MADALENA SE DESTACAVA, FEITO UM CASTELO, ONDE NA FRENTE PASTAVA SILENCIOSAMENTE, UMA VAQUINHA LEITEIRA,QUE AGUARDAVA PACIENTEMENTE, A ORDENHA, PELA MILA, A CRIADA. DA CASA.

SACO CHEIO DE SERRAGENS NAS COSTAS, INICÍO Á VOLTA PRA CASA, APRESSADA, POIS O FEIJÃO JÁ ESPERAVA DE MOLHO.
APÓS O ALMOÇO, OS'' DEVERES PARA CASA'' JA PRONTOS NA SACOLINHA DE PANO SURRADO, RUMO PRO DUQUE DE CAXIAS EM BUSCA DA SABER.
FINDO O DIA, A ESPERA ERA PELAS PERAS, EM FRENTE AO PORTÃO DA CASA DA DONA MARIA POHL.
ERA O GOSTINHO BOM, DE MAIS UM DIA QUE FINDAVA.E QUE POR CERTO,RECOMEÇARIA, RECOMEÇARIA
RECOMEÇARIA...


Publicado por Memórias de uma abelhinha de Irati em 09/02/2017 às 23h27



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