Memórias de uma abelhinha de Irati

Tudo vale a pena quando a alma não e pequena

Meu Diário
24/02/2017 20h14
O sesinho

Sempre que ia na Loja do ''seu João Stoklos, passava em frente ao Sesi, na Rua Munhoz da Rocha.
Atras daquele balcão, sempre estava o ''seu Barbosa, que era João tambem.
Era um senhor muito simpático, me cumprimentava sempre sorrindo.

Um dia, entrei por curiosidade e perguntei se tinha a revista Sesinho, e ele gentilmente me explicou, que só recebia a revista uma vez por mes.
Já ouvira meus colegas do Duque falar, sobre a historia do João Bolinha e não descansei, enquanto não ganhei aquela revistinha.
A figura do boneco João bolinha, nunca esqueci,era um personagem feito de bolinhas da cabeça aos pés, que sempre deixava uma mensagem pra criançada.
A partir dai, fiquei freguesa do ''seu Barbosa e tôdo mes, estava lá pedindo um novo exemplar.

Perto dali ficava a Livraria Martins,que fazia fundos com a linha do trem.
 Parecia um paraíso pra mim, de tantas revistas que tinha.
Ficava lambendo com os olhos, como se dizia antigamente,quando não se podia ter alguma coisa
Pato Donald era o meu favorito, e o Gansolino, sempre dorminhoco, levando bronca da vovó Donalda, que dirigia seu carrinho com elegância.
Gostava tambem da Minie e da Clarabela, do huguinho, luizinho e zezinho.
Um dia ao voltar da escola, passei pelos fundo da livraria e desconbri uma mina preciosa,que nunca mais deixei de explorar,catando as revistas que a gráfica jogava fora, por estarem com algumas falhas de impressão.

Minha paixão pela leitura sempre foi acentuada, pela vida afora foi assim, pois desde os primeiros anos de escola, o momento mais esperado, era o dia da aula de leitura,onde na biblioteca,conduzidos pela Professora Aidê Reis, podia ler, ouvir e contar,todas as historinhas, que mexiam com a imaginação de tôda criança.
A leitura nos dias de hoje, estão rareando;
Um livro aberto, fecha a porta á ignorância.


Publicado por Memórias de uma abelhinha de Irati em 24/02/2017 às 20h14
 
24/02/2017 17h11
Rosilda,Ronilda e Ronaldo

Esses três nomes, marcaram de forma indelével minha vida, na infância.
Sempre escutei nas conversas com minha mãe,sobre dona Iracema e seu Jeremias, que eram seus conhecidos do tempo de solteira.
Ficava fascinada com aquelas narrativas,tão reais, que faziam que voltasse ao meu tempo de escola, e lembrasse da Ronilda, na sala de aula do Grupão.
Era um dia comum, como tantos outros mas havia no ar, um clima de certa apreensão,como se de repente,alguma coisa pudesse ou estivesse pra acontecer.
E aconteceu...
Sentada na carteira ao meu lado,de repente a professora chamou a Ronilda,uma menininha tão graciosa,que mais parecia uma boneca andante,com seus longos cabelos presos numa trança.
Fiquei atenta ao que acontecia, porem só ao chegar em casa, soube o porque daquela saída dela da sala, antes do final da aula.
Sua irmã Rosilda ,acabara de falecer pelo suicídio.
A comoção tomou conta da escola e da cidade, pois todo mundo conhece todo mundo,numa pequena cidade.
Fatos assim, acabam se alastrando rapidamente, como vento na campina.
Não demorou pra sair um boato da causa de tão trágico gesto.
Aquela moça ainda tão jovem, decidiu morrer por um amor não correspondido,dedicado ao jovem rapaz, que segundo comentavam, jogava em um dos times da cidade, e que cujo filho mais tarde, ironicamente,também cometeu suicídio.
Fiquei compadecida,e toda vez que via a Ronilda,lembrava da Rosilda e entristecia, a cada vez que o caso era comentado com minha mãe.
Vez por outra encontrava o Ronaldo, cabisbaixo,como se sentindo incapaz de suportar tão grande perda.
Mais tarde passei a ver a família freqüentando o Centro do seu Bira e da dona Dica, encontrando  ali consolo, pela ausência da filha querida.

Antes disso,Irati já fora abalada com outra tragédia da família Harmuch,que segundo ainda contava minha mãe,foi praticada por um assassino cruel,e  da qual só escapou uma criança, porque a empregada pulando a janela e correndo  salvou,pedindo ajuda.
Exposto no cemitério, o bandido abatido pela policia, muitas pessoas pra lá acorreram,pra ver de perto, tão frio malfeitor e entre esses curiosos,estava minha mãe,testemunha ocular desse fato terrível.
Uma cidade como Irati,nossa cidade amada tão calma no seu cenário bucólico,foi palco desses fatos horrendos,marcado por dores e lágrimas.
Em compensação,tivemos pessoas altruístas e dedicadas ao bem comum,como o Dr Fornazari e Santa Leite.


Publicado por Memórias de uma abelhinha de Irati em 24/02/2017 às 17h11
 
23/02/2017 19h17
Do primo Daniel

 

Primo Daniel...

Tambem parecia um anjo...
Emoldurava-lhe a face um sorriso perene e cativante, naquele seu corpo tão frágil.
Arrastava-se na lentidão dos passos, como se fora bem idoso.
Tinha um grave problema cardíaco e por isso,seu organismo era tão enfraquecido, mesmo assim, vez por outra, aparecia pra visitar vovó Catarina,mãe de sua mãe, Helena.
Chegava com aquele sorriso costumeiro, como se fora a pessoa mais saudável do mundo, porém não conversava muito, pra poupar fôlego de vida, que a cada dia se tornava mais difícil.

Certo dia,estava escutando uma música na nova radionete,''Férias na India, do cantor Nilton Cezar''quando Daniel apareceu e disse:
- Prima,troca comigo o Nilton Cezar pelo Agnaldo Timóteo?
De pronto aceitei a troca:
E nunca mais deixei de ouvir Timóteo cantando ''Os Verdes Campos da Minha Terra, numa homenagem á lembrança dele.
Meu primo Daniel quase um anjo, partiu tão cedo,após embarcar sozinho pra São Paulo, pra fazer uma delicada cirurgia no coração.
De onde jamais retornou...

Morreu sozinho...
Sem o conforto de um rosto amigo por perto, como indigente....
Mas com certeza, nesse momento, um anjo segurava sua mão,no lugar da mãe querida.
Existem pessoas em forma de anjo.
Elas passam pela nossa vida e deixam um rastro de lágrimas.
Outras deixam também lições valiosas, de coragem e amor á vida,como foi a vida de um anjo chamado Daniel.


Publicado por Memórias de uma abelhinha de Irati em 23/02/2017 às 19h17
 
23/02/2017 18h32
Prima Sirlene

 

Ela era certamente, a minha melhor amiguinha e juntas, íamos todos os dias pra escola.
Tínhamos quase a mesma idade,ela mais viçosa, eu muito mais franzina,quase igualava na altura dela.

Passava  sempre em frente a casa da tia Maria e lá estava a Nena, como a chamavam,esperando a Nêne, como me chamavam também.
Ela sempre sorridente, contrastava com a minha timidez.                                                    
Aos domingos,costumávamos brincar no barracão do Aleixo,ao lado da sua casa, juntamente com a Vera Luiza e a Sonia Thomaz,filhas do ''seu Nêne Aleixo e da dona Vera.
Geralmente, as brincadeiras eram de amarelinha, esconde- esconde ou de 31 e lenço atrás.
Depois de muita correria, tia Maria preparava um lanche gostoso,com aquele pão caseiro crescido com fermento de batata,que dá água na boca até hoje, só de lembrar.
Do lado do pocinho de água, havia uma peça de madeira,onde se brincava de casinha,com direito a cuidar das bonecas e das panelinhas.
Sua irmã mais velha Ione,foi quem me presenteou com um lindo vestido ''godê'' azul marinho, com golinha branca,tipo gravatinha, bem no estilo anos 60, pra que pudesse me apresentar bem bonita na Farmácia,logo que lá comecei trabalhar.
Seu pai, meu tio João circuleiro, era uma pessoa calma e tranqüila, o oposto do meu.
Algumas vezes, por ser evangélico, tio João me levou junto à Escola Dominical da Igreja Batista,que ficava próxima ao Duque de Caxias.
Daqueles momentos, lembro-me  que aprendi a cantar o hino do ''Zaquel pequeno quase um anão desejava ver Jesus. Então subiu numa árvore la,onde a rua ao mestre conduz’’

Tio João Justino era o seu nome,mas ficou conhecido como João circuleiro, por operar a serra circular na Serraria do Aleixo...
Tive muitos primos e a todos quis bem, mas a prima Sirlene sempre dediquei um carinho maior.
Havia em meu coração um lugar especial pra ela, pelo fato desta prima  receber-me costumeiramente com lindo sorriso nos lábios, e dos seus olhos emanava uma luz,como a dizer-me:

Seja bem vinda, prima querida.


Publicado por Memórias de uma abelhinha de Irati em 23/02/2017 às 18h32
 
22/02/2017 21h51
Uma abelhinha filha de Irati

Bom dia Irati!

Abro os olhos e te saúdo...
As lembranças do recôndito da alma vão chegando.
Vagarosamente...
O apito da Fabrica do Aleixo ,chamando pra mais um dia de trabalho e depois, o clarão do fogo que a destruiu,...Num incêndio.
Ainda ouço o lamento, daqueles que dela dependiam pra seus sustentos.
O caminho que levava para o Duque de Caxias, carregando uma simples sacolinha de pano,cheia de cadernos e livros encapados com a cor da verde esperança.

Cortando o caminho por aquele barranco próximo ao Duque,que parecia tão difícil transpor..Depois, a despedida dos colegas e mestras queridas, no dia da Formatura,cantando ao som do piano da professora dona Rosemary:
‘’Dizendo tristemente adeus a minha escola vou deixar
partindo levarei saudades
já com saudades parto a chorar...
Da mestra boa e carinhosa levo gratas recordações
deixando a ela o meu pranto,prova sincera de gratidão
Quando lá bem distante da terra onde nasci recordarei saudoso
A velha casa onde aprendi.’’
Ouço ainda o lamento de um trem, rasgando o véu da noite, como fera ferida...
Da janela do meu quarto,de onde podia ver todos os dias a Santa do Morro,sinto o cheiro de saudade do pão de batatas da vovó Catarina.
Das brincadeiras de roda nas noites de luar e depois, então, ao suave som de um clarinete. tocando Petit Fleur, adormecia.
A magia de um Candelabro Italiano e Dio Comme te amo nas sessões do Teatro Central.
Da Igreja Matriz, onde me batizei num dia 13 de Outubro,me vem a visão de velórios,numa missa de pessoas queridas.

O primeiro amor e a primeira desilusão de mãos dadas...

 Das amigas Vera,Zeza e Joselia.
Da dona Madalena,Zenir, do Chou e do Piamada.

E também daquela vaquinha, que no quintal pastava,produzindo mais leite pra criançada.
Da Polaquinha,do Nego e do Joãozinho da Talica, que gostava de cantar as músicas do Nelson Gonçalves.
Dos 20 e poucos anos que passeii,envolvida em teu regaço
E daquele pôr do sol tão lindo,se deitando lentamente atrás da colina,como se tivesse preguiça de ir embora..

Enfim'' recordar é preciso,viver não é preciso''.
Por certo em meus últimos instantes de vida, meu pensamento estará voltado pra você, Terra querida.
Boa noite Irati.

 

 


Publicado por Memórias de uma abelhinha de Irati em 22/02/2017 às 21h51



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