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08/02/2017 21h50
Catando lenha
Era quase inverno ..
O vento que soprava naquela tarde de outono,anunciava que mais frio estava chegando;
Era preciso buscar mais serragens, pra aquecer a casa tôda.
Peguei uma capa de acolchoado, que cobria o bercinho, e com o consentimento da minha mãe,fui sozinha buscar toquinhos de lenha, na fábrica do seu Aleixo,misturados com serragens, pra socar no velho fogão de lenha.
Tudo ia dando certo,quando de repente,ao erguer o saco nas costas,fui puxada pra tras,e dando um giro no ar,caí em meio as serragens.
Atordoada,vendo a roda enorme moer tudo que havia catado,fiquei muito apavorada.
Levantei e sai cambaleando,meio zonza, por entre as corrêias, que giravam e giravam, sem parar.
Não sei como consegui sair dali e chegar em casa,de mãos vazias, e desfigurada pelo trauma.
Ao me ver chegando,minha mãe assustou-se e tentou me acudir,mal sabendo ela,que eu fôra salva por um milagre,,pois ao cair,fui poupada de ser tragada pelas corrêias,que continuaram girando e moendo tudo.
Sempre ouvi dizer ,que ninguem morre antes da hora, e com certeza
minha hora não era aquela.
Sobrevivi...
Publicado por Memórias de uma abelhinha de Irati em 08/02/2017 às 21h50
06/02/2017 22h34
Travessuras
Quando criança, costumava tomar conta da casa, sempre que minha mãe saía trabalhar.
Comandava com responsabilidade, um grupo de 7 irmãos, e nas hora vagas, fazia peraltices, como tôda criança.
Do lado de casa, tinha outro grupo de crianças, que também gostavam de aprontar, quando os pais saiam.
Procurava não prestar atenção nas provocações, porem nem sempre conseguia, e sempre tem aquele dia e então,começava aquela guerrinha de:
-Eu tenho,você não tem.
Daí era um Deus nos acuda...
Funcionava senpre assim:
A turma do lado de lá mostrava um espelho, por exemplo.
A do outro lado mostrava um penico,outro mostrava um relogio.
E assim iam sucedendo, as ''amostras.
Após várias 'mostras'' o estoque ia acabando, e vinha então o pior da brincadeira
Começavam as pedradas no telhado e nas janelas,causando o maior reboliço
Como revidar as pedradas sem se ferir, era um ''causo sério'',um problema.
A situação só se acalmava, quando uma das mães chegava, e passava um ''raspe nos filhos do vizinho.
Depois pegava a chinelinha e esquentava o lombo da meninada, que aos berros gritavam:
-Foram eles que começaram!
Nunca fiquei sabendo direito, quem começava na verdade, pois quando dava conta da situação, o que via na janela da vizinha,eram só os objetos do ''piquete da nha Davina.''
Ambas as mães, ficavam pensando também:
Do qual lado começou primeiro aquela ''mostração''?
Nunca souberam.
No dia seguinte estavam tôdos brincando ''normalmente'', como se nada tivesse acontecido.
Coisas de crianças...
Publicado por Memórias de uma abelhinha de Irati em 06/02/2017 às 22h34
06/02/2017 21h29
Odisseia de uma mulher chamada lidia
Quando nasci, ela não tinha ainda sua casinha cor-de-rosa.
Pra me receber, foi morar ''de parede e meia'' na casa da tia Ana e do tio Valdemar.
Quando fui batizada na Igreja Matriz, no dia 13 de Outubro,um dia frio de
primavera,meus padrinhos Nucha e Julia,nos levaram pra um passeio de Jipinho no Campo da Aviação e sempre contava ela ainda, que ganhei dos padrinhos um sapatinho com carinha de gatinho e um vestido de bolinha,feito pela dona Augusta,mãe da Iara,que cobrou''dois mil reis'', que naquele tempo ja era dificil pagar e que ganhei ainda da vó Catarina, duas moedas de ''boa sorte, e o vovô Hipolito contando a todos que iam batizar a ''mirim`´.
Essas e outras historinhas ela sempre me contava, em nossas ''prósias''
Lembrava ela com nitidez suas venturas e desventuras.
Como eu gostava de ouvi-las!
Sentada aos seus pés na beira da cama, rememorava junto, tudo que vivemos e couberam naqueles 92 anos de luta e chorávamos juntas.
Lembrava dela, andando pela linha do trem, indo consultar na Legião Brasileira de Assistencia, levando dois filhos no colo e outro na barriga, eu do seu lado levando a sacolinha de pano..
Lembro-me que durante o trajeto, os dois se estapeando no colo e ela quase tropeçando nos trilhos...
De outra feita,quando soube que o Presidente americano Kennedy distribuia mantimentos, atraves da Aliança para o Progresso,nas irmã Canisianas,correu pra fila na esperança de conseguir tambem,foi barrada porem, pois a dona Julia do seu Irineu sua vizinha a denunciou, dizendo que ela não precisava ganhar porque o marido era empregado da Prefeitura.
Quando voltei da escola e a vi chorando quis saber o motivo,então contei pra vovó que passou a repartir o pouco que ganhava,principalmente o leite em pó.
Final de ano o Centro do seu Bira e da dona Dica,fazia distribuição de roupas e brinquedos pra familias carentes e la estava ela na fila como sempre,um filho no colo outro na barriga e eu sua fiel escudeira, segurando a sacolinha pra colocar os presentes.
Ao chegar nossa vez na fila, foi barrada pelo atendente Nego Sá,que conhecia meu pai na Prefeitura,alegando que por isso,ela não precisava ganhar ajuda.
Inconformada,saiu chorando,quando foi cercada pela dona Dica do seu Bira, que quis saber porque nada ganhara, e ela entre lagrimas contou o porque,e imediatamente, recebeu os presentes que lhe foram oferecidos, ganhando tambem, roupinhas pro novo nenen na barriga,a `´raspinha do tacho`´ como costumava dizer, quando ja estava perto dos seus 40 anos.
Após o parto teve pleurite e foi internada pelo Dr Fornazari, um Anjo em nossas vida que a todos cuidava com desvelo.
Depois de receber alta,soube que a Prefeitura de Irati, estava oferecendo vaga pra zeladora,queria tabem tentar mas não tinha o que calçar, então emprestou um sapato da vizinha Avelina,e assim foi e nada conseguiu,pois alegaram que o marido já era funcionário daquela Prefeitura..
Continuou trabalhando então como escolhedeira de batatas na Cerealista dos Hessel.
Gostava muito de cantar!
Porem nos seus ultimos dias de vida, lamentava-se dizendo que não tinha nem mais o direito de chorar...
Esse desabafo feriu profundamente meu coração.
Tudo lhe fora negado,até mesmo ver as fotos antigas que tanto gostava olhar, as quais me pediu pra guardar,depois que partisse.
E mesmo assim, sofrendo, chorando,ela cantava sempre,como faço ainda hoje, nos meus momentos de rouxinol.
Publicado por Memórias de uma abelhinha de Irati em 06/02/2017 às 21h29
04/02/2017 20h57
Centrinho de asa
Era costumeira nossas idas, ao Centrinho de Asa.
Sempre que chegava o dia de tomar passes, onde meu pai era tambem medium de mesa,junto com meu tio João circuleiro,que mais tarde se tornou evangelico.
Lembro bem do Centrinho,principalmente nos dias de festas organizadas pela dona Julia Agulham e dona Chiquinha Gaspar, mãe da professora Matilde,que distribuiam doces e presentes pra criançada.
Era um lugar de refazimento,onde muitos doentes la iam tomar seus passes e tirar receitas.
Minha prima Téia,tambem passou por lá, segundo contou minha mãe,numa época em que precisou de tratamentos, pra se livrar de alguns problemas fisicos e espirituais,chegando muitas vezes a cair e sendo prontamente socorrida,ate ficar curada.
A questão da Doutrina espirita,é que muitos tem medo da tal macumba, mas o espiritismo Kardecista é diferente, por isso nada nos impedia de frequentar,sem medo algum.
Enfim,se Deus é um só,não importam os atalhos que devemos percorrer.
O que importa mesmo, é acreditar Nele sempre.
Eu tambem ia as missas da Capelinha de Nossa Senhora das Graças .
Tambem aos cultos da Igreja Batista do tio João,e na Igreja dos Protestante da minha amiga Aglair Iurk,sempre buscando o mesmo Deus.
Deus criou o homem e o homem a religião.
Publicado por Memórias de uma abelhinha de Irati em 04/02/2017 às 20h57
04/02/2017 20h34
Festa do divino
Sempre no mes de junho,a pequena aldeia do Aleixo, ficava alegre e festiva, com a festa do Divino.
A familia era de ''nha Julia e ''nho Irineu, na sua modesta casa,onde tinha um limoeiro,do qual saia doces limonadas pra garotada.
Com a bandeira do Divino hasteada, começavam a rezadeira, com distribuição de prendas entre os convidados, afim de arrecadar ajuda pra proxima festa
Curiosa,sempre ficava espiando aquele andor,com um pássaro em cima,que representava o Espirito Santo.
La pelas tantas, começavam a cantar e a louvar o Divino, e aquele coral de vozes desencontradas,causava o riso da garotada
Nunca pude entender direito aquela cantoria,mas a alegria de ver a carroça do seu João Vellozo e do Tio Ticão, chegando com os cavalos enfeitados com fitas coloridas, se tornaram eternas
Dona Julia e ''Seu Irineu, comandavam a reza e os demais repetiam o refrão.
No final da rezadeira, o andor era colocado em lugar de destaque, e começava o bingo,pra arrecadar fundos pra próxima festa do Divino Espirito Santo.
Essa era a unica vez,que a pacata ruazinha se transformava numa rua festeira, fazendo a alegria da criançada e alimentando a fé dos mais velhos.
Publicado por Memórias de uma abelhinha de Irati em 04/02/2017 às 20h34
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