Memórias de uma abelhinha de Irati

Tudo vale a pena quando a alma não e pequena

Meu Diário
30/04/2017 09h00
O casarão

Ali naquela pequena travessa Jose Mery 132 ,ficava o Casarão do seu Pedro,no melhor estilo de uma moradia de italianos  Os Geronasso.

Ali foi a primeira moradia da chegada na capital,uma casa que embora parecesse grande,tornava-se pequena por ser parede e meia com os vizinhos Neuza e Jair e seus filhos Denilson e Claudete e o cunhado dela Joedi,,que mais tarde veio a se casar com a Vanda,nossa vizinha.

Sentia pela primeira vez, estar morando num casarão mesmo,ao comparar com a pequenina casinha cor -de- rosa, deixada pra trás na cidade natal.

Éramos em onze pessoas pra somente dois quartos sendo um dos quartos no sótão,o que o tornava muito disputado pela piazada que la se instalaram .Foi de la que presenciamos a neve caindo em Curitiba no ano de 1975.

Em volta, a vista era agradável pela presença de um grande área verde,onde cachorros, vacas e cavalos, conviviam pacificamente .Ali a esperança recomeçava e apesar de tantas dificuldades, aquele casarão abrigava uma família em busca de recomeço Não tinha geladeira nem televisão,mas imperava a uniã; Não tinham as facilidades no comer e no vestir,mas havia a solidariedade da troca,um amparando ao outro, nas suas necessidades.

''Ali reinava soberana uma rainha conciliadora, que se desdobrava pra cuidar de todos e que tenho certeza, deixou pra comer por ultima, pra que não faltasse a todos.Minha mãe.

Foram dias difíceis mas reinava a paz,comprovando assim,que as dificuldades nos une, ao contrario da abundancia que separa.

Tinha ate mais uma boquinha pra comer os restos,que por acaso sobrassem. O cãozinho de nome Belinho.

No fundo do quintal um pequeno galpão de madeira,que servia de quartinho pra despensa e até pra dormir,caso chegasse uma visita inesperada.

Foi ali nesse casarão que chegou a primeira televisão em branco e preto,uma Colorado RQ\ comprada na antiga loja Cifra de Curitiba.

 Foi fiadora a tia Naide,que durante uns tempos morou junto naquele casarão quando ela ainda trabalhava como telefonista no Hospital das Clinicas.Tive assim a oportunidade de conviver com minhas primas Cácia,Márcia e Cintia por algum tempo,antes de ir buscar minha família em irati.Tio Alcindo foi quem me deu o meu primeiro álbum de fotografias, quando um dia nos visitou em Irati .A eles dedico enorme saudade.

Ali também comprei o primeiro sofá cama, tendo sido a dona Lole minha fiadora. Enorme gratidão.

Que sensação de vitoria, poder sentar e assistir a novela da época, Cavalo de Ferro e outras mais, como Minha doce namorada e os Telecatche aos sabados, com Ted Boy Marinho x Jóia Psicodélico e tantos outros.

A fase de televizinho acabara,agora a vida parecia menos madrasta e se tornara mãe, e o que viesse depois,certamente se tornaria  de mais fácil solução.Ali pude enfim, comprar minha primeira maquina fotográfica ''love'', com a qual fotografei meus 30 anos.

Ali também conheci um jovem galante,que me levava flores e doces no portão;Rubens era o seu nome.

Porem, foi ali também que desejei fugir da vida pela primeira vez,deixando em cima da mesa um bilhete de despedida pra minha mãe,estava a beira de uma depressão profunda, diante de tantas responsabilidades.

Acabara de perder o emprego na Telepar pra  voltar pra Irati,porem diante da desistência da mãe em voltar,acabei indo trabalhar como servente no Moinho Curitibano,onde passei a ganhar tão pouco que gastava tudo em alimentos, tais como: macarrão, bolacha e trigo.

No dia do pagamento só tinha os vales pra descontar não sobrando nada pra que pudesse comprar um calçado ou uma roupa pra mim.Deus me resgatou e na ultima hora, desisti daquele gesto extremo.

Tudo isso resumo numa só verdade: Que nem sempre o dinheiro traz felicidade, pois foi ali naquele casarão que vivi os meus melhores dias da vida.Tinha uma família  e tinha esperanças.

 

 

 

 

 


Publicado por Memórias de uma abelhinha de Irati em 30/04/2017 às 09h00

Tela de Claude Monet
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