Das travessuras da infância,muitas são inofencivas,porem algumas vezes trazem consequências desagradáveis, como essa do Jipe.
Jipe era um cachorro manhoso,vivia latindo á toa, tôda vez que passava em frente da casa da Bega,sua dona.
Era obrigatório passar por ali tôdos os dias, pra pegar água no poção do ''seu Olimpio''.
Essa era a rotina diária daqueles tempos, em que ter água encanada em casa, era quase um luxo e tôdos os dias, religiosamente, descia a subidinha,de balde na mão,em busca da água que além de cozinhar, servia tambem para um bom banho na ''tina''.
Só que sempre passava de mansinho pelo jipe.Naquele dia fatal porem,passei correndo e ''nhac. O jipe me mordeu,deixando até hoje, uma cicatriz na perna, que guardo como um troféu da infancia.
Meu pai sempre zeloso, foi perguntar ao ''Zé Sulino se o cão ja havia sido vacinado, e num tom meio irõnico,êle respondeu que o Jipe era manso e que eu fôra culpada pela mordida, porque queria subir no jipe pra passear.
Não deu outra. Meu pai inconformado com a resposta,levou-me ao Hospital São Vicente,ali bem em frente ao Bar do Bini,A resposta que ouviu do médico, foi que, se o cão já estava contaminado com o vírus da raiva, de nada adiantaria tomar vacina ''anti-rábica.''
Começou ali a Via Crucis...
Saímos dali e pelo semblante arrazado do pai,logo percebi que a situação era grave,mas como tôda criança, nem liguei.
Antes de voltar pra casa porêm, passamos pela Farmácia do Viquinho e não deu outra coisa...:Iniciava-se ali a aplicação de uma série de injeções ao redor do umbigo, que deixaram-me prostrada de tanta dor por vários dias.
E o jipe?
Lá na sua, sempre latindo,como que não sabendo a dor que me causara, Porem, passado alguns dias, ele enfurecido mordeu também seu dono, que aos berros, com o cão pendurado mordendo sua mão, sacudia pro bicho largar seu braço.
A partir dali foi sacrificado, o coitadinho do animal.Enlouquecera de verdade e pouco tempo depois, seu dono veio a falecer de repente,não sabendo ninguém explicar se foi pela mordida, do'' seu Jipe.''Quanto á mim,sobrevivi,graças as injeções doloridas na barriga, aplicadas ás vezes também pelo Osvaldo, conhecido tambem por Cuco, um vizinho que era casado com a Janete, irmã da Marli e prima da Zeza.
Ele até que procurava fazer gracinhas durante as aplicações, pra desviar minha atenção da dor, dizendo:
Quando casar sara,repetia sorrindo...
Ja rolaram anos e anos e a marquinha dos dentes do Jipe ainda carrego pela vida á fora,como tatuagem dolorida dos tempos de criança.