Bateu o rafaé...
Era costume na época em que era criança, ouvir isso com freqüência, sem imaginar sequer o que significava tal ''palavreado.
Certo dia,no meio da conversa cotidiana, entre minha mãe e nossa vizinha mais proxima ,NhaDavina, a mãe do Ubaldino e do João Maria, ouvi ela dizendo:
Comadre de Deus,bateu o Rafaé na casa da Jarda...
E minha mãe respondia:
- Que barbaridade!
Pobre Jardelina,esse era o nome da Jarda,que morava bem pertinho do campinho do sepilho.
Eu ficava ali de butuca, pra descobrir o que seria aquilo.
Quem era afinal esse tal Rafaé,que batia na casa dos outros, e até na casa da Jarda...
Mas a conversa acabava ali, e outro assunto entrava ´´na conversa vai ,conversa vem´´
Dali uns dias,lá vinha Nha Davina de novo, com a mesma frase...
Bateu o Rafaé...
Não conseguindo descobrir por conta o que era aquilo, resolvi perguntar pra mãe e ela me explicou que:
O Rafaé não era uma pessoa e sim um acontecimento, por falta de alguma coisa ou no caso a comida,que ficava escassa e acabava faltando de um momento pro outro.
A partir dessa explicação, passei a adotar o tal Rafaé, sempre que começava faltar algo em nossa casa, e de repente, virava brincadeira.
E era assim que driblamos muitas dificuldades sorrindo.
Cidade pequena leva essa vantagem.
A solidariedade nos momentos de apuros,quando se batia a porta do vizinho pra emprestar uma xícara de café ou açúcar, se comprometendo a devolver depois,pois era um compromisso assumido,mesmo porque, se não pagasse,não teria ajuda na próxima vez que o Rafaé batesse, fato que era bastante corriqueiro.
Graças a essas lições de vida da infância,aprendi a respeitar sempre compromissos assumidos.
Aprendi tambem que as diferenças sociais que hoje predominam,não chegam perto das carências dos mais pobres de outrora.