Essa a oportunidade que esperava...
Falar das coisas místicas da minha cidade natal, é como voltar á infância sentada naquele banco tosco de madeira,todo final de tarde,pra ouvir histórias de Lobishomem e Boi-tatás.
Corriam os anos 50´60
Meu avô Hipólito,sentado naquele banco, com uma das pernas erguida,como era do seu costume.
Iniciava assim as narrativas arrepiantes desses lendários personagens, que pouco a pouco, iam tomando formas e aterrorizavam o nosso imaginário mundo infantil.
Calada e sempre atenta as conversas,ficava ao lado da minha avó, com aqueles seus olhinhos azuis brilhantes,limitava-se apenas a ouvir, enquanto segurava a cuia de chimarrão,que passava de mão em mão.
Aos poucos iam chegando as visitas de sempre e ''seu Dinarte era sempre o primeiro chamado ''Lobisomem-mor''.
Era assim que meu avô o saudava.
Logo chegava também o Godofino,outro lobisomem da ''tiurma'' e outros mais iam se achegando, como era de costume, todo final do dia.
Todos tinham cadeira cativa ou melhor dizendo, banco cativo, naquele corredor, onde imperava meu avõ,o contador oficial dos causos.
Um Forrest Gump da época...
E la vinham mais ''ouvintes:nho Prestes,Brasilino,Godofino,Juvenal mole,Sabiá,CandinhoCoruja,Saruva,Boludo,Picacove,Nho Kandal e tantos outros.
Iam se sentando,formando a Roda de Causos.
Meu avô com seu jeito peculiar de causeiro,iniciava a rodada,contando coisas que aconteceram na Lapa,lugar onde nasceu,ainda bem antes da abolição da escravatura.
Menino ainda, chegou a conhecer a Princesa Isabel,em uma visita á cidade paranaense da Lapa.
Menino arteiro,foi anos afora, contando á todos o que de fato presenciara,mas os causos de Lobisomem e boi -tatá,eram seus causos e prosa favoritos.
Contava ele, com ar de medo,que certa vez encontrou um boi-tatá na mata fechada e que soltava fogo pelos olhos!
Ao aproximar-se, o bicho saiu rolando,feito um tatu bola.
No dia seguinte, retornou ao mesmo local,com intenção de rever a assombração,mas qual nada...
Tudo que vislumbrara foram apenas sinais das chispas, que o bicho soltara ao fugir...
Passou então a procurar por lobisomens.
Eram feios dizia ele, tinham aparência de homem e lobo,alem de terem orelhas enormes.
Dizia ainda, com aquele ar de quem estava acreditando na própria história.
E o público ficava lhe observando,de um modo meio desconfiado, porem todos como eu. acreditavam que o tal lobisomem,existia mesmo.
Não saia á noite, repetia ele, pois o lobisomem gosta da escuridão e o boi-tatá mais ainda, pois precisa da escuridão pra botar chispas pelos olhos.
Depois de muitas rodadas de chimarrão e paiovas de palha, terminada a sessão de ''causos'' ele despedia-se dos amigos rindo muito deles e os chamando de Lobisomens.
Estes causos povoaram meu imaginário de tal maneira, que toda vez que relembro meu avô,fico pensando:
Como ele sabia de tantos detalhes?
Cruz credo!
Dedico essa narrativa ao meu avô e padrinho..
HIPÓLITO GONÇALVES DE OLIVEIRA
Homem culto por natureza,aprendeu na escola da vida ,o que não aprendeu nos bancos escolares.