Memórias de uma abelhinha de Irati

Tudo vale a pena quando a alma não e pequena

Meu Diário
16/02/2017 19h00
Gente humilde

...Como na canção do Chico,lembrar das casas simples do meu bairro aldeia, me comove.
Pessoas como os Mingaus,os Baruios,os Passarinhos,os Bicudos,Os Corujas e outros mais, que quase sumiram da tela do tempo.
Os Mingaus ,eram de família numerosa,com ''Seu Cipriano e dona Joana
 morando num casebre, perto dos Staniescki,no bairro Canisianas.
O alimento diário já se pode prever, era mingau mesmo, até o dia  em que ele recebia o ordenado de encostado.
Colocava tudo o que comprara no chão forrado de papel e chamava a criançada, pra atacar a fome que sentiam.
Em pé ao lado, dona Joana olhava a criançada se lambuzando, de tanto comer leite em pó aos punhados,e sorria como quem diz:
Amanhã Deus dá mais... 
Já Maria polenta era mais ativa, dando duro pra criar seu filho Zeco,um menino muito desbocado e briguento,que diziam ser filho do Sabiá,um andarilho da cidade.
Mais tarde arrumou novo amor´´ ja casado´´ que lhe deixou outro filho nos braços, mesmo assim resistiu as agruras da vida, zelando por eles ate o final da sua vida.  

...Seu Zé Baruio era guardião da fabrica dos Dallegrave,além de cuidar também da Capelinha do Morro da Santa,onde moravam numa simples casinha privilegiada pela beleza do lugar.
Dona Rita era lavadeira de mão cheia como se costumava dizer e não foram poucas as vezes em que lavou trouxas de roupas pra comadre Lidia de dieta.
...Seu Zé Baruio era benzedor e remedieiro,muitas vezes ajudou os compadres a fazer um cataplasma de mandioca pra bronquite ou um esquenta peito de azeite aquecido numa folha daquele papel azul que embalava o macarrão talharim.
Sempre acompanhado pela sua Rita...
Eram tão simples no agir e no falar, que hoje quando lembro comovida, vejo quão humildes eram, sentados nos finais de tarde em frente a sua modesta casinha,tomando chimarrão.
Era o casal perfeito pra auxiliar o próximo, e vinham de uma familia com sobrenome, que destoava daquela simplicidade: Os Ionngblood...
...Diante de toda essa vivência de vizinhos, porém foi a família Picacove quem mais marcaram essas lembranças.
...Quando volto no tempo e vejo aquele rapaz, ainda tão jovem estendido sobre uma tarimba,imóvel,tetraplégico.
Argemiro era seu nome,vulgo Miro Picacove,irmão da Gilda,da De Lurdes e da Negra do José.
Era o único filho homem, da Nha Rufina e do seu Pedro Picacove.
Inutilizado após um tombo violento,nunca mais sarou o coitadinho.
Era ele, quem mais ajudava aqueles pais tão pobres, e de repente, a pobreza ficou maior ainda, precisando da ajuda dos vizinhos.
A couve, era o indício de que o alimento diário, se resumia nisso,couve picadinha com caracu,consumidos aos berros da Nha Rufina, na porta chamando Seu Pedro picacove,dizendo
-Venha 'antes que o Miro coma tudo.''
Diariamente, minha mãe ia aplicar injeção nele e como toda criança curiosa, ia junto e ficava compadecida daquela situação.
Viveu pouco aquele rapaz,mas o suficiente pra ser lembrado em Minhas Memórias.
Fazendo essa varredura na mente,colocando cada personagem que ali viveu, no destaque merecido,fico comovida com a vida daquela gente tão humilde e confesso:
Dá vontade de chorar.
 


Publicado por Memórias de uma abelhinha de Irati em 16/02/2017 às 19h00

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