Memórias de uma abelhinha de Irati

Tudo vale a pena quando a alma não e pequena

Meu Diário
12/02/2017 20h11
Ana Nery do bairro

 

Olhando esse pequeno aparelho,não se pode imaginar,quantas dôres socorreu,não importando hora,nem lugar.
Foi comprado na antiga farmacia Pessoa,presente pra minha mãe exercer, a sua mais nobre missão:
Amenizar as dôres,daqueles que batiam a nossa porta,pedindo pra que ela os socorressem,com uma aplicação de injeção.
Ora era em adultos, ora em crianças, não importava,o tempo todo era assim,com chuva ou sol,de dia ou de noite,muitas vezes fora de hora, nas madrugadas frias Iratiense.
Quando as dôres apuravam e a criatura gritava,como no caso do ''seu Adolfo da dona Jesuiszinha,que contraiu uma grave enfermidade e os médicos desenganaram, pra morrer em casa.

Era só os gritos começarem e lá ia dona Lidia, a enfermeira abnegada,aparelho na mão, levar socorro á criatura, através de um medicamento tipo morfina,que tinha o estranho nome de ''sossegon''

Abaixo da nossa rua, morava dona Avelina,uma humilde senhora, já bastante idosa, que sofria de asma e chegava sufocada,quase sem poder mais respirar, com a injeção na mão, pedindo uma aplicação imediata.
Das vêzes que ficava tão mal, não podendo sair da cama,então corria a enfermeira dos nescessitados, socorrê-las rua abaixo.

Até mesmo, no dia em que a cegonha trouxe-lhe, mais um bebê ,poucas horas depois do parto, em casa,como era costume acontecer naquele tempo,chega dona Avelina, injeção na mão, pedindo ajuda pra falta de ar, que era grande demais.
Sentou-se á beira da tosca cama e aguardou, enquanto eu fervia o aparelho no álcool, esterilizando, pra ser aplicado na aflita mulher.
Existem pessôas tão abençoadas,que nunca, em momento algum, recusam-se á praticar o bem,não importando hora nem lugar.

Tudo isso vivenciei na minha meninice,e aprendi que,sómente pela caridade, podemos esquecer nossos próprios problemas,vendo no próximo, a oportunidade de fazer algo de bom.
Todos somos, inclinados a fazer o bem sem olhar a quem,não dependendo pra isso, de cursos e muito menos de diplomas,pra exercer a caridade na prática.

Esse aparelhinho, sempre me lembrará á minha mãezinha,tão dedicada ao bem comum,mas também, faz lembrar, que seguindo seus passos,também passei a aplicar injeções,quando me era solicitado.
Tempo depois, fui me aperfeiçoando na Farmácia e comecei a aplicar na veia também,considerando um pouco mais dificil fazer.
Os anos que passei atrás daquele balcão,no entanto,foram de uma importância muito grande em minha vida futura, e a figura de Ana Nery,a matriarca da enfermagem,sempre me comoveu,e as vêzes, se confunde com a imagem da minha mãe, na representação da generosidade.

E em resumo:
Minha mãe e esse aparelho de injeção, foram minhas referências no decorrer da vida,sempre buscando mais, ajudar que ser ajudada,onde quer que de mim precisassem.


Publicado por Memórias de uma abelhinha de Irati em 12/02/2017 às 20h11

Tela de Claude Monet
Site do Escritor criado por Recanto das Letras